Uma Pequena História de Amor

"Todas as palavras do mundo,
Ou mesmo o brinquedo mais caro,
É um pouco que acha que é tudo,
É um gesto que nem é tão raro.

Vale mais a palavra sincera,
Vale mais o momento de agora,
Vale mais um segundo de espera,
Vale mais um rosto que chora."
Era uma vez um pai. Seu trabalho dava o sustento para a sua família. Seus sentimentos ficavam obrigatoriamente escondidos, pois além de chefe da casa, era a pilastra onde todos podiam se apoiar. Sua força estava na máscara que usava, uma simples fantasia, um muro.
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Seu filho tinha a educação que seus pais podiam dar, mas por essas coisas estranhas que acontecem em nosso mundo, não tiveram. O arroz e o feijão nunca lhe faltaram e os medos e as injustiças não faziam parte do seu dia a dia. Nenhum dos seus amigos da escola (uns mais ricos, outros mais pobres) tiveram mais sorte do que ele, e explico porque: No comercial da TV, um brinquedo caro. Malditos sejam estes valores da vida moderna!
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“Pai, eu queria este carrinho controle remoto no meu aniversário, olha só como é legal! Ele acende os faróis e tem tração nas quatro rodas!”.
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O pai explicou que era caro, que não tinha como comprá-lo. O filho disse, como os olhos marejados e um nó na garganta, que entendia. Apesar disso, cada vez que via o comercial seus olhos brilhavam, e sempre que podia comentava com o pai sobre o maldito carrinho de controle remoto.
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O pai nunca pode receber um presente desses. Quando criança era muito pobre e teve que trabalhar cedo. Teve vontades, mas os brinquedos que os outros meninos podiam ter, ele não tivera. No fundo do seu coração, percebeu a importância daquele carrinho, talvez nem tanto para o filho, mas para ele mesmo. Ele queria dar de presente algo que nunca pode ter, simbolizado por um brinquedo. Um brinquedo caro.
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O pai fez uma dívida que não podia e encomendou o carrinho. Um amigo do trabalho o trouxe da cidade grande. Faltavam ainda alguns dias para o aniversário do menino, e o brinquedo ficou escondido em cima do guarda-roupa.
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O filho estava cada dia mais fascinado pela perspectiva de ganhar seu presente, pois conhecia o seu poder de persuasão (as crianças às vezes são diabólicas!). Os dias passavam devagar e apesar do pai ter lhe dito que não poderia comprar o brinquedo, ainda sonhava e tinha esperança, pois conhecia o coração do seu pai e estava jogando pesado... Todos os dias ele comentava sobre as características do carrinho, ora do controle remoto, ora da cor que ele queria. Um amigo tinha ganhado o mesmo brinquedo e ele ficava imaginando as disputas que poderiam fazer, com curvas fechadas e obstáculos. Ele iria marcar os tempos de classificação e iria convidar todo mundo para o “Grande Prêmio” dos seus sonhos, e é claro, iria ganhar a corrida e subir no lugar mais alto para comemorar a vitória. De noite, ficava desenhando no caderno o seu carrinho e colava os adesivos dos patrocinadores.
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A mãe não agüentou tamanha ansiedade do filho e num ímpeto de mãe, decidiu dar-lhe logo o presente, antes mesmo do dia do aniversário.
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O pai sofreu. Como uma espada em seu coração, sentiu a dor de ser impedido de saciar sua própria ansiedade, que se aumentava a cada dia, lado a lado a ansiedade do filho. Ele queria que aquele aniversário fosse inesquecível, queria ajudar com o brinquedo novo, montar as partes, colocar as pilhas e brincar junto... Queria ver os olhos de surpresa, o sorriso infinito que certamente iria se formar no rosto daquele garoto.
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O filho pegou o pacote que a mãe lhe deu, abriu o papel que o embrulhava, mas não abriu a caixa. Deixou-a em cima da mesa e foi em direção ao pai para pedir que o ajudasse, não que fosse necessário, pois sabia que era capaz de fazer sozinho, mas naquele momento, percebeu que talvez este presente não fosse assim tão importante quanto imaginava... Talvez existisse nesta história algo ainda mais real do que um brinquedo, que as disputas, que o “Grande Prêmio”... Talvez ele estivesse correndo o risco de negar ao pai um presente muito mais barato do que o que havia recebido, mas certamente muito mais valioso.
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O pai estava muito machucado e tentou mostrar-se forte. Disse em um momento que não se importava, que nunca mais iria fazer uma besteira tão grande quanto aquela. Distante, talvez tenha chorado...
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O menino não abriu o presente, mas ficava olhando para ele, com uma vontade imensa de abri-lo, mas não se rendeu. Acho que o pai percebeu a atitude do menino, e se rendeu finalmente. Juntos, abriram a caixa, montaram o brinquedo e brincaram, afinal de contas era um brinquedo não é mesmo?
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Dias depois assaltaram a casa do garoto e roubaram o carrinho. Não importa. O maior presente não foi roubado, pois a lembrança que o menino (hoje um homem) tem daquele dia jamais será esquecida. Isso é o que fica. Isso é o que importa.
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Essa não foi revisada, mas republicada em 03/10/2007

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindoo amorrr , mas deu dó do pai e do filho no final mas eu entendi a mensagem bj

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